quarta-feira, 18 de junho de 2008

Gaúcho

Gaúcho é uma denominação das pessoas ligadas a atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais do vale do Rio da Prata, entre os quais o bioma denominado pampa, supostamente descendente mestiço de espanhóis, portugueses, indígenas e negros. As peculiares características de seu modo de vida pastoril teriam forjado uma cultura própria, derivada do amálgama da cultura ibérica, indígena e africana, adaptada ao trabalho pecuário em propriedades denominadas estâncias. É assim conhecido no Brasil, enquanto que em países de língua espanhola, como Argentina e Uruguai é chamado de gaúcho.

O termo também é correntemente usado como gentílico para denominação de habitantes do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e em alguns casos o termo é utilizado por habitantes do norte do Brasil para denominar os oriundos de qualquer região do sul do país.

O termo seria ainda utilizado para denominar um tipo folclórico e um conjunto de tradições codificado e difundido por um movimento cultural agrupado em agremiações que cultivam ou mantêm tais tradições, denominadas CTGs. Seria, conforme seus defensores, a denominação de uma nacionalidade.



Etimologia

Existem várias teorias conflitantes sobre a origem do termo "gaúcho". Pode ser que o vocábulo tenha derivado do quechua (idioma ameríndio andino) ou do árabe "chaucho" (um tipo de chicote para controlar manadas de animais). Além disso, abundam outras hipóteses sobre o assunto. A primeira vez que foi documentado o seu uso foi em torno de 1816, durante a independência da Argentina.

Segundo Barbosa Lessa em seu livro Rodeio dos Ventos, publicado pela Editora Mercado Aberto, 2a edição, o primeiro registro da palavra se deu em 1787, quando o matemático português Dr. José de Saldanha participava como integrante da comissão demarcadora de limites na fronteira do Brasil com o Uruguai. O registro se deu em uma nota de rodapé em seu relatório de trabalho.

História

O termo originou-se na língua indígena da descrição de pessoas de hábitos nômades, criminosos, brancos pobres, escravos fugidos ou índios aculturados que não possuíam terras e vendiam sua força de trabalho a criadores de gado nas regiões de ocorrência de campos naturais do vale do Rio da Prata, entre os quais o pampa, planície do vale do Rio da Prata e com pequena ocorrência no oeste do estado do Rio Grande do Sul, limitada, a oeste, pela cordilheira dos Andes.

O gentílico "gaúcho" foi aplicado aos habitantes da Província do Rio Grande do Sul na época do Império Brasileiro por motivos políticos, para menosprezá-los, sendo adotado posteriormente pelos próprios habitantes por ocasião da adoção da forma de governo republicana (1889), quando valores culturais tomaram outro significado. Também importante para adoção dessa imagem mítica para representação do Estado do Rio Grande do Sul é a influência do nativismo argentino, que no final do século XIX expressa a construção de um mito fundador da cultura da região.

Na Argentina, o poema épico Martín Fierro, de José Hernández, exemplifica a utilização do elemento gaúcho como o símbolo da tradição nacional da Argentina, em contradição com a opressão simbolizada pela europeização. Martín Fierro, o herói do poema, é um "gaúcho" recrutado a força pelo exército argentino, abandona seu posto e se torna um fugitivo caçado. Esta imagem idealizada do gaúcho livre e altivo é freqüentemente contrastada com aquela dos trabalhadores mestiços das outras regiões do Brasil.

Os gaúchos apreciam mostrar-se como grandes cavaleiros e o cavalo do gaúcho, especialmente o cavalo crioulo, "era tudo o que ele possuía neste mundo". Durante as guerras do século XIX, que ocorreram na região, atualmente conhecida como Cone Sul, as cavalarias de todos os países eram compostas quase que inteiramente por gaúchos.

Música


Existem vários ritmos que fazem parte da cultura gaúcha, mas a maioria deles são variações de danças de salão centro-européias populares no século XIX. Esses ritmos, derivados da valsa, do xote, da polca e da mazurca, foram adaptados como vaneira, vaneirão, chamamé, milonga, rancheira, xote, polonaise e chimarrita, entre outras.

O único ritmo que realmente é gaúcho é o bugio, criado pelo gaiteiro Wenceslau da Silva Gomes, conhecido como Neneca Gomes, em 1928, na então província de São Francisco de Assis. Inspirado no ronco dos bugios, macacos que habitam as matas do Rio Grande do Sul, o ritmo foi banido de lá por ser considerado obsceno, mas foi cultivado em São Francisco de Paula, onde até hoje é realizado o festival nativista "O Ronco do Bugio".

A partir de 1970, com a criação da Califórnia da Canção Nativa em Uruguaiana, começaram a surgir festivais de música nativa, que incentivaram o surgimento de novos estilos, de músicos e compositores, naquilo que passou a ser chamado de "música nativista". A música nativista na verdade é formada por ritmos que já existiam, com destaque para a milonga e o chamamé, porém com canções mais elaboradas e com letras quase sempre dedicadas ao Rio Grande do Sul.


O dialeto gaúcho

O dialeto gaúcho é um dialeto do português falado no Rio Grande do Sul. Fortemente influenciado pelo espanhol e pelo guarani, especialmente nas áreas próximas à fronteira com o Uruguai, e ainda com vários empréstimos do italiano, possui diferenças lexicais e semânticas muito numerosas em relação ao português padrão - o que causa, às vezes, dificuldade de compreensão do diálogo informal entre dois gaúchos por parte de pessoas de outras regiões brasileiras, muito embora eles se façam entender perfeitamente quando falam com brasileiros de outras regiões. Foi publicado um dicionário "gaúcho-brasileiro" pelo filólogo Batista Bossle, listando as expressões regionais e seus equivalentes na norma culta.

A fonologia é bastante próxima do espanhol platino, sendo algumas de suas características a não vocalização do "l" em "u" no final de sílabas, e a menor importância das vogais nasais, praticamente restrita à vogal "ã" e aos ditongos "ão" e "õe". Gramaticalmente, uma das características mais notáveis é o uso do pronome "tu" em vez de "você" (diferente do usado em São Paulo), mas com o verbo na terceira pessoa ("tu ama", "tu vende", "tu parte").

Palavras

* ancinho = rastilho
* aprochegar = aproximar-se, chegar perto;
* atucanado = atrapalhado, cheio de problemas;
* baita = grande, crescido;
* bergamota = tangerina;
* borracho = bêbado;
* branquinho = beijinho (doce);
* brigadiano = policial militar
* cacetinho = pão francês;
* cancheiro = pessoa que tem experiência e/ou habilidade em alguma coisa
* carpim = meia de homem
* chapa = radiografia
* chapa = dentadura
* chavear = trancar com a chave;
* china = mulher de vida fácil;
* chinoca = mulher;
* colorado = torcedor do Internacional;
* corpinho = sutiã;
* cuecão = ceroula;
* cupincha = camarada, companheiro, amigo;
* cusco = cachorro, cão pequeno;
* entrevero = mistura, desordem, confusão de pessoas, animais ou objetos;
* fatiota = terno;
* folhinha = calendário;
* gaudério = gaúcho;
* guria = menina, moça;
* lomba = ladeira;
* melena = cabelo;
* negrinho = brigadeiro (doce);
* pandorga = papagaio, pipa;
* parelho = liso, homogêneo;
* patente = vaso sanitário;
* pebolim = totó, fla-flu;
* pechada = batida, trombada (entre automóveis)
* pedro e paulo = dupla de policiais militares;
* peleia = briga;
* piá/guri = menino;
* pila = palavra regional que dá nome a moeda nacional, no caso o Real (ex: 10 pila, 25 pila - usa-se sempre no singular);
* prenda = mulher do gaúcho;
* quebra-molas = lombada;
* sarjeta = meio-fio;
* sestear = dormir depois do almoço;
* sinaleira = semáforo;
* tchê = pessoa, "cara";
* terneiro = bezerro;
* trava = freio, breque;
* tri = muito (ex: trilegal, tribonita);
* veranear = passar o verão;
* vivente = criatura viva, pessoa, indivíduo;


Expressões

* agüentar o tirão = topar a parada, sustentar uma opinião;
* andar pelas caronas = andar mal, estar em dificuldade;
* arrastar a asa = enamorar-se;
* botar os cachorros = falar mal de alguém;
* chorar as pitangas = lamuriar-se;
* dar com os burros n'água = dar-se mal, ser mal sucedido;
* deitar nas cordas = fazer corpo mole;
* de orelha em pé = atento, de sobreaviso;
* de rédeas no chão = entregue, submisso, apaixonado;
* de varde = de balde, em vão;
* de vereda = imediatamente, já;
* é tiro dado e bugio deitado = acertar de primeira; ter certeza do que faz;
* entregar as fichas = ceder, concordar;
* estar com o diabo no corpo = estar furioso, insuportável;
* frio de renguear cusco = frio tão intenso que pode deixar um cachorro mancando;
* índio velho = camarada;
* ir aos pés = fazer as necessidades no vaso sanitário;
* juntar os trapos = casar, viver junto;
* lamber a cria = mimar o filho;
* largar de mão = desistir, abandonar;
* matar cachorro a grito = estar sem dinheiro, estar na miséria, viver com dificuldade;
* meter a viola no saco = calar-se, desistir, acovardar-se;
* morar para fora = morar no campo (fazenda, sítio ou vila pequena)
* na ponta dos cascos = (estar) em posição excelente, pronto para atuar;
* no mato sem cachorro = em dificuldade, em apuros;
* olhar de cobra choca = olhar dissimulado;
* se aprochegar = chegar mais próximo, se acomodar;
* sentar o braço = surrar, espancar, esbofetetar, bater;
* terneiro guacho = tomador de leite;
* tomar uma camaçada de pau = apanhar;
* tomar uma tunda de laço = apanhar;


Interjeições

* Bah! = Nossa! - é primariamente, uma interjeição de espanto, mas pode ter outros usos, como, por exemplo, mostrar hesitação ao iniciar uma frase.
* Capaz? = É mesmo?, Imagina! - indica espanto e dúvida ao mesmo tempo quanto ao que a pessoa acabou de ouvir.
* Que tri! = Que legal!
* Né = Não é? - gíria porto-alegrense utilizada todo o tempo ao final das frases durante uma conversa, né?

Prenda

Prenda, no Rio Grande do Sul, é a mulher gaúcha, segundo o movimento tradicionalista gaúcho, e seu par é o peão.

A indumentária típica da prenda consiste em um vestido (ou saia e blusa), com ou sem casaquinho, cuja barra alcança o peito do pé. O modelo da saia varia de acordo com a idade e estrutura física da prenda. As mangas da blusa podem ser longas, três-quartos ou até o cotovelo, e podem ser lisas ou levemente franzidas, mas não bufantes. Geralmente a prenda não usa decote, mas, um leve decote, com ou sem gola, sem expor os ombros e o seio, é admitido. Os sapatos são geralmente pretos, brancos ou bege, com uma tira sobre o peito do pé abotoada do lado de fora, podendo ter salto cinco ou meio-salto.

Os cabelos devem estar semipresos, presos ou em tranças, enfeitados com flores discretas, que podem ser naturais ou artificiais. As mulheres mais jovens podem usar travessas simples ou com flores discretas e passadores nos cabelos. Em respeito à idade ou gosto pessoal, o uso de adereço no cabelo é opcional.

A maquiagem deve ser discreta e de acordo com a idade e a ocasião social.

A prenda jamais usa brincos de plástico coloridos, relógio, pulseiras, luvas ou colares.

O vestido de prenda

O vestido de prenda é um traje típico brasileiro, mais especificamente, a indumentária gauchesca feminina.

Pode ser um vestido inteiro para todas as prendas, ou saia e blusa, com ou sem casaquinho, para as prendas adultas e senhoras. A saia pode ser godê, meio-godê, em panos, em babados ou evasê; pode apresentar cortes na cintura, cadeirão ou corte-princesa, dependendo da idade e estrutura física da prenda, e com o comprimento da saia alcançando o peito do pé.

Os tecidos para a execução dos vestidos variam de acordo com as estações climáticas, podendo ser lisos ou com estampas florais miúdas, xadrezinho, com riscas discretas, de bolinhas etc. Não são permitidos tecidos transparentes sem forro e nem brilhantes, como lamê ou lurex. Não é aconselhável o uso do preto, que remete ao luto, e a cor branca é reservada para o uso das noivas e debutantes. Não devem ser usadas também combinações com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul.

O vestido da prenda geralmente não é decotado; porém, é admitido um leve decote, com ou sem gola, sem expor os ombros e o seio. Pode apresentar enfeites com renda, aplicações, bordados, fitas, gregas, babadinhos, plissês, botõezinhos forrados, nervuras ou favos. As mangas podem ser compridas, três-quartos ou até o cotovelo; podem ser lisas ou levemente franzidas (mas nunca não bufantes), com ou sem aplicação, mas sem muito exagero.

Modernamente, a gaúcha tem trocado o vestido de prenda pelo chiripá.

Os Centros de Tradições Gaúchas

Os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) são sociedades civis sem fins lucrativos, que buscam divulgar as tradições e o folclore da cultura gaúcha tal como foi codificada e registrada por folcloristas reconhecidos pelo movimento.

Visam a integração social dos seus participantes, os tradicionalistas, o resgate e preservação dos costumes dos gaúchos, através de danças, do churrasco e demais pratos típicos, e dos esportes.

O chimarrão

O chimarrão ou mate é uma bebida característica da cultura do sul da América do Sul, um hábito legado pelas culturas quíchua, aymará e guarani. Ainda hoje é hábito fortemente arraigado no Brasil (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (principalmente), Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondônia), parte da Bolívia e Chile e em todo o Paraguai, Uruguai e a Argentina.

É composto por uma cuia, uma bomba, erva-mate e água.

Embora a acepção mate seja castelhana, é utilizada popularmente também no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo "chimarrão".

Chimarrão (cimarrón em espanhol) também designa o gado que foge para o mato e torna-se selvagem.


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